Tuesday, May 15, 2007

Vão-se os amores, ficam os artefatos!


Olhei nos olhos dela, não seria a última vez que o faria. Sentia um incômodo dentro de mim: quando as coisas não são como a gente deseja, ficamos um pouco contrariados e desconfortáveis.

Seus lábios eram tão macios que pareciam recheados de algodão-doce, sua pele, alva, possuía um cheiro bom. Nas suas palavras, nos seus gestos, havia algo de ingênuo e infantil, porém de uma maturidade gostosamente juvenil. A cada sorriso, cada alegria, fazia-se luz no meu espírito.

Mas, não há, freqüentemente, correspondência de afetos, e, do riso, pode fazer-se o pranto. Sem lágrimas ou dores, desfez-se o que era sonho, com um tom de naturalidade que rodaria a cabeça de qualquer romântico, pois nestas criaturas habita uma valorização do impossível e de sofrimentos infundados.

Não sou romântico, sou escritor.

Há uma vantagem nos amores não concretizados: rendem poesia. Basta ter-se paciência de esperá-los amadurecer, mas sem chegar a contaminar completamente o seu espírito, gerando um sensato sentimento de fim, que traz inspiração, mas sem dores insuportáveis.

Não é o amor romântico que move o homem letrado, ele sabe que as coisas mundanas são finitas e pequenas, mas, sim, a subjetividade, a abstração. O mundo real se vive sem sal e tempero, a fantasia aproveita-se, sonha-se, chora-se, emociona-se: à vida, assistimos, a arte, vivemos.

Ela se foi, mas a engrenagem dos sonhos ficou - intacta.
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Infelizmente não lembro o nome do pintor que fez aquela gravura.
Texto chinfrim, mas gostei, praticando que se chega lá.
;)
See yaa!

2 comments:

Anonymous said...

Não sabia que meu amigo além de desenhista, era também poeta! Gostei do seu blog, voltarei aqui sempre quer dé.
beijão

Anonymous said...

Nem todo choro precisa de olhos..