Saturday, November 08, 2008

Oréstia

Terminei hoje minha leitura da maior obra conhecida de Ésquilo. Composta por três tragédias – Agamêmnon, Coéforas e Eumênides -, narrando a trágica trajetória do palácio dos Atridas.

Clitemnestra, primeira dama do palácio, aguarda ansiosamente o retorno de seu esposo, Agamêmnon, que fora combater Tróia. Todavia, seu aflito esperar não é um anseio matrimonial comum: Clitemnestra planeja assassiná-lo. Unida a seu amante, Egisto – que já possuía um ódio anterior à Agamêmnon -, Clitemnestra arquiteta e realiza seu homicídio, vingando a morte de sua filha querida, Efigênia, que fora sacrificada pelo pai, para apaziguar as águas do Mar Egeu e permitir que a frota aquéia seguisse belicoso destino contra Tróia.

Este é, basicamente, o enredo da primeira tragédia da trilogia, na verdade, este horrendo conflito não começa ou termina aí. Egisto, odeia Agamêmnon por um outro assassínio familiar: Atreu, pai de Agamêmnon, tio de Egisto, descobriu que seu irmão, Tiestes, pai de Egisto, era o amante de sua esposa, Aerópe. Então, para se vingar, convida Tiestes para um banquete e serve-lhe de seus próprios filhos, fazendo-o cometer um ato antropofágico, “filifágico”. Tiestes, horrorizado, amaldiçoa Atreu e sua prole. Tal horror não passa impune aos olhos dos deuses que punirão os Átridas como se mostra por toda a trilogia.

Na segunda peça, Coéforas, narra-se a vingança de Orestes, filho de Clitemnestra e Agamêmnon, que volta para vingar seu pai, assassinando, assim, Clitemnestra e Egisto, com a ajuda de Electra, sua irmã. Mas, Orestes não comete o homicídio sem alguma hesitação, porém, Apolo, incumbira-lhe de acertas as contas com sua mãe, ameaçando-o de terríveis agonias e morte.

Na terceira parte da tragédia, Eumênides, Orestes, perseguido pelas Erínias – antigas deusas nascidas da noite e do sangue de Uranus – o Céu –, perseguem Orestes que encontra acolhimento em um templo de Apolo. Loxias – outro nome para Apolo – promete ajudar Orestes e envia-lhe para Atenas, a fim de alcançar julgamento no Areópago – principal tribunal de Atenas. Então, chegamos ao final da trilogia quando Atenas, Apolo, as Erínias, Orestes e os juízes se reúnem, a fim de decidir o futuro do matricida Orestes. Após a acusação das Erínias, testemunho de Apolo e votação dos juízes – mais o voto de Minerva de Atena -, Orestes é inocentado, e as Erínias passam a residir Atenas, sendo cultuadas pelos Atenienses que agora detém espécie de direito sobre a justiça – antes de poder das Erínias.

Considerações

Foi a primeira Tragédia que li cujo desfecho é feliz, ou melhor, não trágico. O que me atentou para algo que li em um livro sobre tragédia recentemente onde a autora defende que a tragédia grega não precisa ter necessariamente um desfecho trágico, mas um enredo trágico.

Há diversos elementos que podem ser percebidos de imediato:
uma exaltação à Atenas e uma metáfora do seu domínio à Argos. Orestes, quando recorre à ajuda de Atena, dirige-se à cidade de Atenas, agarra-se à estátua da deusa, oferece-se em devoção e ao ser salvo, coloca-se à disposição da nação, da deusa, agradecendo e se pondo a disposição de companheiro daquela nação, pela ajuda prestada, uma alegoria ao poderio de Atenas sob àquela nação;
o posicionamento de Atenas como centro de Justiça autorizada pelas deuses e o conflito entre mitos e logos, representado no conflito Erínias x Justiça ateniense, havendo no final um apaziguamento, um acordo entre as duas. As Erínias reivindicam o seu direito milenar de perseguir aqueles que cometem um crime a um consangüíneo, Orestes argumenta que apenas vingou seu pai, obedecendo aos desígnios de Apolo, à lei dos deuses. Embora as Erínias sintam-se lesadas ao terem um direito seu negado por deuses mais jovens, Atena e Apolo, elas aceitam a oferta de Palas Atena – que as reverencia e respeita todo momento -, oferecendo a elas lugar privilegiado na sua cidade e culto daqueles que residem ali. Ficando Atenas como uma referência de Justiça, um claro sistema de justificar a lei humana que agora se impunha às leis divinas. Agora o homem tem direito a julgar e ser julgado.

Conclusão

Bom, fez-se extremamente prazeroso e satisfatório ler a Oréstia. Sinto que a cada tragédia lida se ilumina mais e mais o imaginário grego antigo, bem como seus costumes e mitologias.
Pretendo agora me debruçar sobre a teoria – ainda introdutória – sobre o assunto e desenvolver um maior conhecimento na área.
No mais, recomendo extremamente a leitura de tais textos, considero-os essenciais à compreensão da formação de nossa civilização ocidental, além de ser uma viagem intrigante.

=)

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